Acompanhe, abaixo, a íntegra da entrevista à Revista Reação.
Com 18 anos de carreira como atleta, participou de quatro Jogos Paraolímpicos: Atlanta em 1996, Sidney em 2000, Atenas em 2004 e Pequim em 2008. Atualmente, é presidente do CIEDEF, entidade onde é voluntário desde 1992.
A natação em sua vida, veio no início como fisioterapia para melhorar a locomoção, prejudicada pela Seqüela de Poliomielite. Quando criança começou as atividades com a hidroterapia, já que tinha limitação de movimentos nas pernas e braços.
Uma das barreiras enfrentadas por Joon, foi a dificuldade de arrumar lugares para praticar esportes na época que iniciou as atividades. Até encontrar algumas pessoas dispostas a ajudar. Quando começou a praticar, percebeu que, seus movimentos mais simples, até então, complicados de fazer, com o tempo e o treinamento na água, acabaram se tornando mais leves. Houve uma melhora nos movimentos, e rápida.
Aos 16 anos passou a treinar assiduamente, até que, depois de 8 anos de treino foi chamado para participar de competições no CIEDEF, que tinha acabado de ser fundado.
Se tornou um especialista nas provas de 50m, 100m e 4x50m livre, 50m costas e 50m borboleta. Conquistou medalha de Ouro no revezamento 4x50m livre e Bronze nos 50m borboleta e 50m costas no Parapanamericano de Mar Del Plata´2003. Suas maiores conquistas na modalidade foram medalha de Prata nas Paraolimpíadas de Sydney e Atenas, em 2000 e 2004; Bronze no Meeting Internacional e no Parapan Rio´2007; Ouro, Prata e Bronze no Mundial de IWAS no Rio, em 2005; e Ouro, Prata e Bronze no Mundial de IWAS na Nova Zelândia, em 2003. Além de Bronze no revezamento 4x50m na Paraolimpíada de Pequim 2008.
Hoje, o nadador trabalha na formação de novos atletas. O trabalho é realizado no CIEDEF, onde desenvolve atividades para pessoas com deficiências, como natação, atletismo e tiro. O CIEDEF possui atualmente, 30 atletas de ponta participando de competições, e cerca de 100 alunos. É uma referência nacional no paradesporto.
Acompanhe entrevista exclusiva do campeão das piscinas para a Revista Reação:
Revista Reação - O que você espera da Olimpíada e Paraolimpíada no Rio de Janeiro em 2016?
Joon Sok Seo - Espero que faça com que o esporte cresça em nosso País. Hoje, como esportista e à frente de uma entidade, vejo a importância do esporte como um fator educacional, de inclusão social, principalmente para PPDs... Vejo o esporte com importância na formação do ser humano, independente da competição... Vejo como o ser humano se torna melhor praticando esporte. Para qualquer pessoa, o esporte ajuda em vários aspectos da vida.
RR - E para as pessoas com deficiência?
JSS - Acho muito mais importante ainda, pela qualidade de vida e a autoestima que proporciona. Acredito que tudo que vivi, por exemplo, independente de ser competidor ou não, é o que aprendi com o esporte. Isso me deu força física, qualidade de vida, me estimulou a estudar, vencer na vida, a tudo. Deu-me convívio social. Imaginem, há 30 anos, alguém vestir uma sunga e expor sua deficiência numa piscina cheia de pessoas ditas “normais”? Você não sabe como vai ser tratado, se o profissional que está alí vai estar preparado. O esporte é uma coisa legal, com regras iguais para todos. É um instrumento de educação. No caso de PPDs, é ainda mais que isso. Uma das melhores coisas que me aconteceu foi ter entrado no CIEDEF. Quando você chega e vê todos com suas limitações, aprende mais. A mesma coisa é chegar numa Paraolimpíada, entrar no refeitório e ver gente de todos os países e com as mais diferentes limitações, se superando, participando, é bonito.
RR - Você foi um dos primeiros atletas paraolímpicos brasileiros a conquistar um espaço no esporte e abrir algumas portas. Como você a importância do papel dos atletas neste contexto?
JSS – Tudo o que a gente passou foi importante. Porque a estrutura que existe hoje no esporte paraolímpico é resultado das nossas conquistas. Foi uma luta por um espaço, com méritos para o esporte adaptado poder aparecer na TV, por exemplo. Hoje somos vistos como atleta e não como “deficientes”. O esporte ajudou a mudar isso. Quando a mídia viu atletas com deficiências nas Paraolimpíadas, viu que eles traziam resultados. A gente não tinha apoio nenhum e quando mostrou as vitórias para a sociedade, o esportista não foi mais visto como “deficiente”, mas como um vencedor. Como atleta. Enxergaram as outras possibilidades em nós. E o esporte foi uma grande ferramenta nessa virada.
RR - Quando você acha que ocorreu essa virada?
JSS - A partir de Atenas 2004. A Paraolimpíada pela primeira vez, mesmo que via TV a cabo, passou ao vivo para o Brasil. Até então, nem se ouvia falar disso por aqui. Em 2000, em Sidney, já trouxemos grandes resultados. Apareceu alguma coisa aqui, outra ali, mas não teve ainda transmissão ao vivo. Aparecia uma ou outra prova, mas de forma esporádica. Já em Atenas e Pequim, foram televisionadas várias modalidades esportivas. Eu cheguei a ouvir que a Paraolimpíada foi melhor que a própria Olimpíada para se ver pela TV. E isso porque trouxe resultados, medalhas para o país. Isso mudou o conceito de PPDs e a nossa imagem.
RR - Você participou diretamente do Parapan 2007, no Rio. O que você acha que mudou daquele momento para cá no esporte ? E o que acredita que ainda vá mudar até 2016?
JSS - Acho que a decisão de trazer o Parapan para o Rio foi uma conquista dupla. O Parapan nunca tinha sido realizado junto com os Jogos Panamericanos. A primeira vez foi no Rio de Janeiro. Isso já por si foi uma conquista para o esporte Paraolímpico, de ser junto, utilizando o mesmo local, a mesma estrutura, com a Vila Olímpica toda acessível. Essa questão de se montar uma estrutura para todos gera outra lógica de cidadania. A experiência do Parapan foi muito boa.
RR - Antes de chegar 2016, teremos as Paraolimpíadas de 2012, em Londres. Como você vê o crescimento do Brasil para essa competição?
JSS - A partir das conquistas de 2004, passou a existir uma coisa muito interessante: a Bolsa Atleta. Que começou a dar oportunidade para muita gente. Quem não vai para a Paraolimpíada, mas começa a ter bons resultados em nível nacional, passa a ter o direito de pleitear a bolsa. Com isso, o camarada começa a treinar e a se dedicar. Se a bolsa é pequena ou grande, não importa, é um investimento do Governo Federal no paradesporto. Hoje ela varia de R$ 500 a R$ 2,5 mil, dependendo da categoria e do atleta. Isso aconteceu por que viram os resultados que os paraolímpicos trouxeram e investiram nessas pessoas.
RR - Você espera um resultado melhor ainda para o Brasil nas próximas competições?
JSS – Claro! Serão excelentes resultados em 2012. O Brasil tem tudo para fazer melhor do que em anos anteriores. Com a Bolsa Atleta e um pouco da mudança de cultura, é possível trazer melhores resultados. O Parapan 2007 foi muito bem divulgado aqui e muitos atletas apareceram por causa disso. Antes de 2004 era difícil aparecer um atleta novo. Hoje é diferente, aparece em todas as modalidades e deficiências também. Imagine o camarada em casa, sem um braço ou perna, assistindo na TV um atleta com deficiência, fazendo esporte. Ele vai pensar que também pode fazer. Isso mexe com o brio da pessoa. O caso do Daniel Dias é um exemplo. Ele não tem os dois braços e uma perna e é um nadador fabuloso! E começou no CIEDEF.
RR - Faltando 7 anos para a competição, Rio2016, na sua opinião, é possível fazer uma base para disputar bem essa Paraolimpíada dentro de casa?
JSS - É possível sim, pegar um garoto hoje com 10, 12 anos, e chegar à competição com 18 ou 20 anos já um campeão. Isso vale para atletas olímpicos e paraolímpicos. No paraolímpico, como tem muito atleta com sede e falta de oportunidade ainda, acho que vai ser mais fácil. Na última, em Pequim, apareceram alguns atletas de última hora. Em 7 anos isso é perfeitamente possível. Por isso insisto no bom trabalho de base.
RR - Você acredita que vá existir este investimento na base?
JSS - Gostaria que tivesse. Mas, acho difícil, pois aqui não se tem essa cultura no esporte, e não só para paraolímpicos, mas no geral. Acho difícil mudar essa lógica. Gostaria muito de ver isso acontecer. Ver o governo se preocupando com uma fatia do orçamento na formação das pessoas para o esporte.
RR – Rio 2016, pode ser o divisor de águas para a causa da deficiência no Brasil?
JSS - Acredito que sim. Em 2004, com a transmissão dos jogos pela TV, já mudou muito o olhar das pessoas para as PPDs. Em 2007, teve a questão da divulgação do esporte e do paradesporto, e 2016 só vai potencializar ainda mais tudo isso. Na própria campanha do Rio para ser sede do evento, usou-se muitas imagens de atletas paraolímpicos. Eles utilizaram isso também, porque as Paraolimpíadas hoje, tem uma grande força.
RR - E por falar em competição, você está organizando um evento para novembro: o Somos Iguais 2009?
JSS – Isso mesmo, o evento será dia 14 de novembro, a partir das 8h, no Complexo Esportivo do Pacaembu, na capital paulista. É um evento de natação, organizado pelo CIEDEF, e para todas as pessoas, com e sem deficiências. Podem ser formadas equipes entre 10 e 20 pessoas, que participarão de um revezamento na piscina. Essas equipes têm que ter no mínimo 2 pessoas com deficiência ou 2 sem deficiência, para que todos nadem juntos e mostrem a ferramenta forte que é o esporte, independentemente das diferenças. Esta é a 9ª edição do Somos Iguais, e terá entrada franca. A taxa de inscrição é de R$ 20. Pessoas com deficiência não pagam. Não é preciso ser atleta para participar. Mais Informações no site: www.somosiguais.org.br.
Acesse http://www.revistareacao.com.br/Materias.aspx?id=2 para detalhes sobre a entrevista.